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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Livro de Tobias

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Tobias, removendo as entranhas do peixe que o atacou, o seu cão e o anjo Rafael

O livro de Tobias (grego: τωβιτ, hebreu: טובי Tobih "meu Deus"), é uma narração antiga de origem judaica, é um dos livros deuterocanônicos do antigo testamento da Bíblia católica e possui 14 capítulos.
O livro de Tobias foi considerado canônico pelo Concílio de Cartago em 397 e confirmado pela Igreja Católica Apostólica Romana no Concílio de Trento em 1546. Assim como os outros livros deuterocanônicos, o livro de Tobias não foi incluído na Bíblia Hebraica, ou Tanakh como também é conhecida. Apesar de não estarem na Bíblia Hebraica, tanto o livro de Tobias quanto os outros livros deuterocanônicos sempre fizeram parte da literatura hebraica, sendo eles estudados nas sinagogas, tendo um estimado valor dentro do judaísmo e para a história de Israel.
A Bíblia de Jerusalém relata que numa gruta em Qumrã (Manuscritos do Mar Morto) foram encontrados restos de quatro manuscritos em aramaico e de um manuscritos em hebraico do Livro de Tobias, e que ele figura no Cânon, no ocidente a partir do sínodo romano de 382, e no oriente a partir do Concílio de Constantinopla, denominado "in Trullo", em 692[1].
Por outro lado, nem a Bíblia Hebraica, nem a bíblia protestante não incluem o livro de Tobias e os outros livros deuterocanônicos.
Conteúdo
Há estudos que indicam que o Livro de Tobias foi escrito por volta do ano 200 AC e que não relata uma história real, pois os acontecimentos aí descritos dificilmente se enquadram na história desse período. O livro pertence ao gênero sapiencial e é uma espécie de romance ou novela, destinado a transmitir ensinamentos[2].
O livro conta a história de duas família judaicas aparentadas deportadas em Nínive, na Mesopotâmia e em Ecbátana na (Pérsia), Tobit chefe da família de Nínive fica cego e envia seu filho Tobias para cobrar uma dívida em uma cidade distante, durante a viagem, protegido pelo Anjo Rafael, Tobias encontra e casa com Sara, sua prima em Ecbátana, que era atormentada por um demônio que antes matara sete noivos na véspera do casamento. No retorno Tobit é curado[3].
O protagonista é um judeu justo e fiel a Deus, mostrando que a verdadeira sabedoria, o caminho para a fidelidade, consiste em amar a Deus e obedecer à sua vontade (mandamentos), independentemente das circunstâncias[2].
O livro foi escrito na época da dominação decorrente das conquistas de Alexandre que tentava impor a cultura, a religião e costumes helenistas, ameaçando a identidade do povo judeu, logo o livro busca reafirmar esta identidade ameaçada[2].
Entre os ensinamentos do livro, destacam-se a descoberta da providência divina na vida cotidiana (Arcanjo Rafael), a fidelidade à vontade de Deus (Lei), a prática da esmola, o amor aos pais, a oração e o jejum, a integridade do matrimônio e o respeito pelos mortos. O autor mostra, sobretudo, que o homem justo não vive sozinho: está sempre acompanhado e protegido por Deus[2].
Ensinamentos
Dentre os ensinamentos destacam-se[4]:
  • Os conselhos dados por Tobit a seu filho Tobias (4,21;14:8-11)
  • A importância da família (1:8; 3:10.15; 4:3-4.19; 6:15; 14:3.8-9.12-13)
  • As boas obras e a fidelidade a Deus (1:8.12.16-17; 2:2.10; 3,15; 4:5.7-11.16; 14:8-11)
  • Justa retribuição (4,14; 5:3.7.10.15; 12:1)
  • Sepultar os mortos (1:17-18; 2:3-8)
  • Oração, nas mais diversas circunstâncias: (4,19; desespero 3:1-6.11-15; inquietude 8:5-8; alegria/gratidão 8:15-17, 14:3-7; louvor 3:2.11)  Capítulo 1
    1 Tobit, da tribo e da cidade de Neftali (situada na Galiléia superior,
    acima de Naasson, atrás do caminho do ocidente, tendo à esquerda a
    cidade de Sefet),
    2 foi levado para o cativeiro no tempo de Salmanasar, rei dos assírios.
    Embora cativo, ele não abandonou o caminho da verdade.
    3 Tudo aquilo, de que podia dispor, distribuía cada dia a seus irmãos de
    raça, que partilhavam com ele sua sorte de cativo.
    4 Embora fosse ele o mais jovem da tribo de Neftali, seu proceder nada
    tinha de pueril.
    5 Por isso, enquanto todos eles iam adorar os bezerros de ouro que o rei
    de Israel, Jeroboão, tinha feito, só ele fugia da companhia de todos e
    6 dirigia-se ao templo do Senhor em Jerusalém, onde adorava o Senhor
    Deus de Israel, oferecendo fielmente as primícias e os dízimos de todos
    os seus bens.
    7 De três em três anos, dava aos prosélitos e aos estrangeiros todo o
    seu dízimo.
    8 Esta e outras práticas semelhantes da lei de Deus, tinha observado
    desde a sua infância.
    9 Quando se tornou adulto, desposou uma mulher de sua tribo,
    chamada Ana, da qual teve um filho, a quem deu o nome de Tobias.
    10 Ensinou-lhe desde a sua mais tenra idade a temer a Deus e a se
    abster de todo o pecado.
    11 Desse modo, quando chegou com sua mulher e seu filho, como
    cativo, no meio de sua tribo, à cidade de Nínive,
    12 embora todos os outros comessem dos alimentos dos pagãos,
    guardou sua alma pura, e jamais contraiu mancha alguma com seus
    alimentos.
    13 E porque ele conservava com todo o seu coração a lembrança de
    Deus, Deus tornou-o simpático ao rei Salmanasar,
    14 que o autorizou a ir aonde quisesse, e a fazer o que quer que lhe
    agradasse.
    15 Ele ia, pois, visitar todos os deportados e dava-lhes conselhos
    salutares.
    16 Foi um dia a Ragés, cidade da Média, com dez talentos de prata que
    o rei lhe tinha dado.
    17 Encontrando entre a multidão dos seus compatriotas um homem de
    sua tribo, chamado Gabael, o qual se achava em dificuldades, deu-lhe a
    sobredita quantia de prata, mediante um recibo.
    18 Passou o tempo; Salmanasar morreu e Senaquerib, seu filho,
    sucedeu-lhe no trono. Ora, Senaquerib odiava os israelitas.
    19 Tobit ia diariamente visitar toda a sua parentela, consolava-a e
    3
    distribuía dos seus bens a cada um, segundo as suas posses.
    20 Alimentava os famintos, vestia os nus, e, com uma solicitude toda
    particular, sepultava os defuntos e os que tinham sido mortos.
    21 Quando o rei Senaquerib, fugindo da Judéia ao castigo com que Deus
    o ferira por suas blasfêmias, mandou assassinar, na sua ira, um grande
    número de israelitas, Tobit sepultou os seus cadáveres.
    22 Denunciaram-no ao rei, que o mandou matar e confiscou todos os
    seus bens.
    23 Tobit, porém, despojado de tudo, fugiu com seu filho e sua mulher e,
    como tinha muitos amigos, conseguiu permanecer oculto.
    24 Ora, quarenta e cinco dias depois, o rei foi assassinado por seus
    filhos,
    25 e Tobit voltou para a sua casa; e foram-lhe restituídos todos os seus
    bens.
    Capítulo 2
    1 Algum tempo depois, num dia de festa religiosa, foi preparado um
    grande banquete na casa de Tobit.
    2 Ele disse então ao seu filho: Vai buscar alguns homens piedosos de
    nossa tribo, para comerem conosco.
    3 Ele saiu, mas logo voltou, anunciando ao pai que um dos filhos de
    Israel jazia degolado na praça. Tobit levantou-se imediatamente da
    mesa, sem nada haver comido, e foi aonde estava o cadáver.
    4 Tomou-o e levou-o clandestinamente para a sua casa, a fim de
    sepultá-lo com cuidado depois do sol posto.
    5 Tendo escondido o cadáver, começou a comer com pranto e tremor,
    6 lembrando-se do oráculo que o Senhor tinha pronunciado pela boca do
    profeta Amós: Vossas festas mudar-se-ão em luto e lamentações (Am
    8,10).
    7 Quando o sol se pôs, ele foi e o sepultou.
    8 Seus vizinhos criticavam-no unanimemente. Já uma vez ordenaram
    que te matassem, precisamente por isso, e mal escapaste dessa
    sentença de morte, recomeças a enterrar os cadáveres!
    9 Mas Tobit temia mais a Deus que ao rei, e continuava a levar para a
    sua casa os corpos daqueles que eram assassinados, onde os escondia e
    os inumava durante a noite.
    10 Ora, aconteceu que um dia, cansado desse trabalho, voltou para a
    sua casa e deitou-se junto à parede onde adormeceu.
    11 Enquanto dormia, caiu-lhe de um ninho de andorinhas esterco
    quente nos olhos, e ele tornou-se cego.
    12 Deus permitiu que lhe acontecesse essa prova, para que a sua
    paciência, como a do santo homem Jó, servisse de exemplo à
    4
    posteridade.
    13 Como havia sempre temido a Deus, desde a sua infância, e guardado
    seus mandamentos, ele não se afligiu (nem murmurou) contra Deus por
    ter sido atingido pela cegueira.
    14 Mas perseverou firme no temor de Deus, e continuou a dar-lhe
    graças em todos os dias de sua vida.
    15 Assim como o bem-aventurado Jó foi insultado por outros chefes,
    assim seus parentes e amigos escarneciam de seu comportamento:
    16 Onde está, diziam eles, essa esperança por cujo amor deste esmolas
    e sepultaste os mortos?
    17 Porém Tobit repreendia-os, dizendo: Não faleis assim;
    18 somos filhos dos santos (patriarcas), e esperamos aquela vida que
    Deus há de dar aos que não perdem jamais a sua confiança nele.
    19 Ora, Ana, sua mulher, ia todos os dias tecer, e trazia o que ela
    ganhava com o trabalho de suas mãos.
    20 Foi assim que, tendo trazido para casa um cabrito que recebera
    (como gratificação),
    21 seu marido ouviu-o balir e disse: Vê que ele não tenha sido roubado;
    restitui-o ao seu proprietário, porque não nos é permitido comer, e nem
    mesmo tocar, o que foi roubado.
    22 Ao que lhe respondeu sua mulher com indignação: Tua esperança é
    manifestamente vã; agora tuas esmolas mostram bem o que valem!
    Com estas e outras palavras semelhantes ela censurava-o duramente.
    Capítulo 3
    1 Tobit, então, suspirando em meio de suas lágrimas, pôs-se a orar:
    2 Vós sois justo, Senhor! Vossos juízos são cheios de eqüidade, e vossa
    conduta é toda misericórdia, verdade e justiça.
    3 Lembrai-vos, pois, de mim, Senhor! Não me castigueis por meus
    pecados e não guardeis a memória de minhas ofensas, nem das de
    meus antepassados.
    4 Se fomos entregues à pilhagem, ao cativeiro e à morte, e se nos
    temos tornado objeto de mofa e de riso para os pagãos entre os quais
    nos dispersastes, é porque não obedecemos às vossas leis.
    5 Agora os vossos castigos são grandes, porque não procedemos
    segundo os vossos preceitos e não temos sido leais para convosco.
    6 Tratai-me, pois, ó Senhor, como vos aprouver; mas recebei a minha
    alma em paz, porque me é melhor morrer que viver.
    7 Aconteceu que, precisamente naquele dia, Sara, filha de Raguel, em
    Ecbátana na Média, teve também de suportar os ultrajes de uma serva
    de seu pai.
    8 Ela tinha sido dada sucessivamente a sete maridos. Mas logo que eles
    5
    se aproximavam dela, um demônio chamado Asmodeu os matava.
    9 Tendo Sara repreendido a jovem criada por alguma falta, esta
    respondeu-lhe: Não vejamos jamais filho nem filha nascidos de ti sobre
    a terra! Foste tu que assassinaste os teus maridos.
    10 Queres porventura matar-me, como mataste todos os sete? Ouvindo
    isso, Sara subiu ao seu quarto e aí ficou três dias completos, sem comer
    nem beber.
    11 E, orando com fervor, ela suplicava a Deus, chorando, que a livrasse
    dessa humilhação.
    12 Ao terceiro dia, acabou sua oração, bendizendo o Senhor desta
    forma:
    13 Deus de nossos pais, que vosso nome seja bendito. Vós, que depois
    de vos irardes, usais de misericórdia, e no meio da tribulação perdoais
    os pecados aos que vos invocam.
    14 Volto-me para vós, ó Senhor; para vós levanto os meus olhos.
    15 Rogo-vos, Senhor, que me livreis dos laços deste opróbrio, ou então
    que me tireis de sobre a terra!
    16 Vós sabeis que eu nunca desejei homem algum, e que guardei minha
    alma pura de todo o mau desejo.
    17 Nunca freqüentei lugares de prazer nem tive comércio com pessoas
    levianas.
    18 E se consenti em casar-me, foi por vosso temor e não por paixão.
    19 Foi, sem dúvida, porque eu não era digna deles; ou talvez não eram
    eles dignos de mim; ou então me destinastes a outro homem.
    20 Não está nas mãos do homem penetrar os vossos desígnios.
    21 Mas todo aquele que vos honra tem a certeza de que sua vida, se for
    provada, será coroada; que depois da tribulação haverá a libertação, e
    que, se houver castigo, haverá também acesso à vossa misericórdia.
    22 Porque vós não vos comprazeis em nossa perda: após a tempestade,
    mandais a bonança; depois das lágrimas e dos gemidos, derramais a
    alegria.
    23 Ó Deus de Israel, que o vosso nome seja eternamente bendito!
    24 Estas duas orações foram ouvidas ao mesmo tempo, diante da glória
    do Deus Altíssimo;
    25 e um santo anjo do Senhor, Rafael, foi enviado para curar Tobit e
    Sara, cujas preces tinham sido simultaneamente dirigidas ao Senhor.
    Capítulo 4
    1 Tobit, julgando que sua prece tinha sido atendida e que ia morrer,
    chamou junto de si o seu filho
    2 e disse-lhe: Ouve, meu filho, as palavras que te vou dizer, e faze que
    elas sejam em teu coração um sólido fundamento.
    6
    3 Quando Deus tiver recebido a minha alma, darás sepultura ao meu
    corpo. Honrarás tua mãe todos os dias de tua vida,
    4 porque te deves lembrar de quantos perigos ela passou por tua causa
    (quando te trazia em seu seio).
    5 Quando ela, por sua vez, tiver cessado de viver, tu a enterrarás junto
    de mim.
    6 Quanto a ti, conserva sempre em teu coração o pensamento de Deus;
    guarda-te de consentir jamais no pecado, e de negligenciar os preceitos
    do Senhor, nosso Deus.
    7 Dá esmola dos teus bens, e não te desvies de nenhum pobre, pois,
    assim fazendo, Deus tampouco se desviará de ti.
    8 Sê misericordioso segundo as tuas posses.
    9 Se tiveres muito, dá abundantemente; se tiveres pouco, dá desse
    pouco de bom coração.
    10 Assim acumularás uma boa recompensa para o dia da necessidade:
    11 porque a esmola livra do pecado e da morte, e preserva a alma de
    cair nas trevas.
    12 A esmola será para todos os que a praticam um motivo de grande
    confiança diante do Deus Altíssimo.
    13 Guarda-te, meu filho, de toda a fornicação: fora de tua mulher, não
    te autorizes jamais um comércio criminoso.
    14 Nunca permitas que o orgulho domine o teu espírito ou tuas
    palavras, porque ele é a origem de todo o mal.
    15 A todo o que fizer para ti um trabalho, paga o seu salário na mesma
    hora: que a paga de teu operário não fique um instante em teu poder.
    16 Guarda-te de jamais fazer a outrem o que não quererias que te fosse
    feito.
    17 Come o teu pão em companhia dos pobres e dos indigentes; cobre
    com as tuas próprias vestes os que estiverem desprovidos delas.
    18 Põe o teu pão e o teu vinho sobre a sepultura do justo; mas não o
    comas, nem o bebas em companhia dos pecadores.
    19 Busca sempre conselho junto ao sábio.
    20 Bendize a Deus em todo o tempo, e pede-lhe que dirija os teus
    passos, de modo que os teus planos estejam sempre de acordo com a
    sua vontade.
    21 Faço-te saber também, meu filho, que quando eras ainda pequenino,
    emprestei a Gabael de Ragés, cidade da Média, uma soma de dez
    talentos de prata, cujo recibo tenho guardado comigo.
    22 Procura, pois, um meio de ir até lá para receber o sobredito peso de
    prata, restituindo-lhe o recibo.
    23 Procura viver sem cuidados, meu filho. Levamos, é certo, uma vida
    pobre, mas se temermos a Deus, se evitarmos todo o pecado e
    vivermos honestamente, grande será a nossa riqueza.
    7
    Capítulo 5
    1 Então Tobias respondeu a seu pai: Tudo o que me ordenaste, eu o
    farei, meu pai.
    2 Mas estou realmente sem saber como ir buscar esse dinheiro. Gabael
    não me conhece, e eu tampouco o conheço; que sinal lhe hei de dar?
    Não conheço nem mesmo o caminho por onde ir a essa terra.
    3 Seu pai disse-lhe: Tenho comigo o seu recibo; bastará que lho
    mostres, para que ele te devolva imediatamente o dinheiro.
    4 Vai procurar um homem de confiança que te possa acompanhar,
    mediante uma retribuição. É preciso que recebas esse dinheiro enquanto
    ainda estou vivo.
    5 Apenas saíra, Tobias encontrou um jovem de belo aspecto, equipado
    como para uma viagem.
    6 Sem saber que se tratava de um anjo de Deus, ele o saudou e disselhe:
    De onde és tu, ó bom jovem?
    7 Ele respondeu: Sou israelita. Tobias perguntou-lhe: Conheces
    porventura o caminho para a Média?
    8 Oh, muito!, respondeu ele. Tenho percorrido freqüentemente esse
    caminho. Hospedei-me em casa de Gabael, nosso compatriota que
    habita em Ragés, na Média, cidade que está situada na montanha de
    Ecbátana.
    9 Tobias disse-lhe: Rogo-te que esperes por mim, enquanto vou
    anunciar isto a meu pai.
    10 Tendo Tobias entrado e contado o sucedido ao seu pai, este ficou
    muito admirado e pediu que fizesse entrar o jovem.
    11 Ele entrou e saudou a Tobit: A felicidade esteja contigo para sempre!
    12 Ao que Tobit respondeu: Que felicidade posso eu ter ainda? Estou
    nas trevas, sem poder ver a luz do céu.
    13 O jovem replicou-lhe: Tem ânimo, porque é fácil a Deus curar-te!
    14 Tobit disse-lhe: É verdade que poderás conduzir meu filho à casa de
    Gabael, em Ragés, na Média? Quando voltares, eu te retribuirei por isso.
    15 Então o anjo disse-lhe: Eu o levarei até lá e to reconduzirei.
    16 Tobit então perguntou-lhe: Rogo-te que me digas de que família e de
    que tribo és tu?
    17 O anjo respondeu: Que é que procuras: a raça do servo, ou o próprio
    servo para acompanhar teu filho?
    18 Mas, para tranqüilizar-te: eu sou Azarias, filho do grande Ananias.
    19 És de família distinta, respondeu Tobit. Rogo-te que não me queiras
    mal por ter querido conhecer tua origem.
    20 O anjo então disse: Conduzirei o teu filho são e salvo, e to trarei de
    novo são e salvo.
    21 Tobit respondeu: Boa viagem! Que Deus esteja em vosso caminho, e
    8
    que o seu anjo vos acompanhe.
    22 Fizeram em seguida suas bagagens, Tobias despediu-se de seu pai e
    de sua mãe e os dois viajantes partiram.
    23 Depois que partiram, sua mãe pôs-se a chorar: Tiraste-nos, disse
    ela, o bordão de nossa velhice, e o apartaste de nós.
    24 Prouvera a Deus que nunca tivesse havido esse dinheiro pelo qual o
    enviaste.
    25 O pouco que temos nos bastava; a nossa riqueza era a vista de
    nosso filho.
    26 Tobit respondeu-lhe: Não chores; nosso filho chegará são e salvo, e
    voltará também são e salvo para a nossa companhia; tu o verás com os
    teus olhos.
    27 Estou certo de que um bom anjo de Deus o acompanhará e disporá
    solicitamente tudo o que lhe diz respeito, de modo que ele tenha a
    alegria de voltar para nós.
    28 Ouvindo isso, sua mãe cessou de chorar e calou-se.
    Capítulo 6
    1 Tobias partiu, pois, seguido de seu cão, e deteve-se na primeira
    parada à beira do rio Tigre.
    2 Descendo ao rio para lavar os pés, eis que um enorme peixe se lançou
    sobre ele para devorá-lo.
    3 Aterrorizado, Tobias gritou, dizendo: Senhor, ele lança-se sobre mim.
    4 O anjo disse-lhe: Pega-o pelas guelras e puxa-o para ti. Tobias assim
    o fez. Arrastou o peixe para a terra, o qual se pôs a saltar aos seus pés.
    5 O anjo então disse-lhe: Abre-o, e guarda o coração, o fel e o fígado,
    que servirão para remédios muito eficazes. Ele assim o fez.
    6 A seguir ele assou uma parte da carne do peixe, que levaram consigo
    pelo caminho. Salgaram o resto, para que lhes bastasse até chegarem a
    Ragés, na Média.
    7 Entretanto, Tobias interrogou o anjo: Azarias, meu irmão, peço-te que
    me digas qual é a virtude curativa dessas partes do peixe que me
    mandaste guardar.
    8 O anjo respondeu-lhe: Se puseres um pedaço do coração sobre
    brasas, a sua fumaça expulsará toda espécie de mau espírito, tanto do
    homem como da mulher, e impedirá que ele volte de novo a eles.
    9 Quanto ao fel, pode-se fazer com ele um ungüento para os olhos que
    têm uma belida, porque ele tem a propriedade de curar.
    10 Em seguida Tobias disse-lhe: Onde queres que pousemos?
    11 Há aqui, respondeu o anjo, um homem de tua tribo e de tua família,
    chamado Raguel, que tem uma filha chamada Sara; além dela não tem
    mais filha.
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    12 Todos os seus bens te devem pertencer: mas é preciso que a recebas
    por mulher.
    13 Pede-a, pois, ao seu pai, e ele ta dará por mulher.
    14 Tobias replicou: Ouvi dizer que ela já teve sete maridos, e que todos
    morreram. Diz-se mesmo que foi um demônio que os matou,
    15 por isso eu temo que o mesmo venha a me acontecer, a mim que
    sou filho único, e desse modo faça descer lamentavelmente a velhice de
    meus pais à habitação dos mortos.
    16 O anjo respondeu-lhe: Ouve-me, e eu te mostrarei sobre quem o
    demônio tem poder:
    17 são os que se casam, banindo Deus de seu coração e de seu
    pensamento, e se entregam à sua paixão como o cavalo e o burro, que
    não têm entendimento: sobre estes o demônio tem poder.
    18 Tu, porém, quando te casares e entrares na câmara nupcial, viverás
    com ela em castidade durante três dias, e não vos ocupareis de outra
    coisa senão de orar juntos.
    19 Na primeira noite, queimarás o fígado do peixe, e será posto em fuga
    o demônio.
    20 Na segunda noite, serás admitido na sociedade dos santos
    patriarcas.
    21 Na terceira noite, receberás a bênção que vos dará filhos cheios de
    saúde.
    22 Passada esta terceira noite, aproximar-te-ás da jovem no temor ao
    Senhor, mais com o desejo de ter filhos que o ímpeto da paixão.
    Obterás assim para os teus filhos a bênção prometida à raça de Abraão.
    Capítulo 7
    1 Chegaram, pois à casa de Raguel, que os recebeu cordialmente.
    2 Vendo Tobias, Raguel disse a Edna, sua mulher: Como este jovem é
    parecido com meu primo.
    3 Dito isto, perguntou De onde viestes, ó jovens? Eles responderam:
    Somos da tribo de Neftali, dos deportados de Nínive.
    4 Raguel prosseguiu: Conheceis porventura o meu primo Tobit?
    Certamente, responderam.
    5 E como Raguel começasse a elogiar Tobit, o anjo disse-lhe: Esse Tobit
    de que falas é o pai deste jovem
    6 Raguel lançou-se então ao pescoço de Tobias, beijou-o com lágrimas,
    e disse:
    7 Abençoado sejas, meu filho, porque és filho de um homem de bem!
    8 Edna, sua mulher, e Sara, sua filha, tinham também os olhos cheios
    de lágrimas.
    9 Depois que conversaram, Raguel mandou matar um carneiro para
    10
    preparar um jantar. E quando lhes rogava que tomassem lugar à mesa,
    10 Tobias disse-lhe: Não comerei nem beberei aqui hoje, antes que me
    tenhas prometido conceder o que te vou pedir: dá-me Sara, tua filha,
    (por mulher).
    11 Estas palavras encheram Raguel de espanto, pensando no que tinha
    acontecido aos sete maridos que se tinham aproximado dela, e começou
    a temer que tal desgraça se repetisse mais uma vez. E como ele
    hesitasse em dar uma resposta a Tobias,
    12 o anjo disse-lhe: Não temas dar-lhe tua filha, porque é deste piedoso
    servo de Deus que ela deve ser mulher. Por isso nenhum outro pôde têla.
    13 Então Raguel disse: Não tenho mais dúvidas de que Deus admitiu em
    sua presença minhas lágrimas.
    14 Estou persuadido de que ele vos fez vir à minha casa unicamente
    para que minha filha desposasse um seu parente, segundo a lei de
    Moisés. Não temas: eu ta hei de dar.
    15 E, tomando a mão direita de sua filha, pô-la na de Tobias, dizendo:
    Que o Deus de Abraão, o Deus de lsaac, o Deus de Jacó esteja
    convosco; que ele vos una e derrame sobre vós a sua bênção.
    16 Tomou em seguida o papel, e redigiram o ato do matrimônio.
    17 E celebraram alegremente uma festa, agradecendo a Deus.
    18 Raguel chamou então sua mulher e mandou-lhe que preparasse
    outro aposento.
    19 Ela introduziu ali Sara, sua filha, e esta se pôs a chorar.
    20 Mas ela disse-lhe: O Senhor do céu te encha de alegria pelos males
    que tens sofrido.
    Capítulo 8
    1 Depois do jantar, introduziram o jovem no aposento de Sara.
    2 E Tobias, fiel às indicações do anjo, tirou do seu alforje uma parte do
    fígado e o pôs sobre brasas acesas.
    3 Nesse momento, o anjo Rafael tomou o demônio e prendeu-o no
    deserto do Alto Egito.
    4 Então Tobias encorajou a jovem com estas palavras: Levanta-te, Sara,
    e roguemos a Deus, hoje, amanhã e depois de amanhã. Estaremos
    unidos a Deus durante essas três noites. Depois da terceira noite
    consumaremos nossa união;
    5 porque somos filhos dos santos (patriarcas), e não nos devemos casar
    como os pagãos que não conhecem a Deus.
    6 Levantaram-se, pois, ambos, e oraram juntos fervorosamente para
    que lhes fosse conservada a vida.
    7 Tobias disse: Senhor Deus de nossos pais, bendigam-vos os céus, a
    11
    terra, o mar, as fontes e os rios, com todas as criaturas que neles
    existem.
    8 Vós fizestes Adão do limo da terra, e destes-lhe Eva por companheira.
    9 Ora, vós sabeis, ó Senhor, que não é para satisfazer a minha paixão
    que recebo a minha prima como esposa, mas unicamente com o desejo
    de suscitar uma posteridade, pela qual o vosso nome seja eternamente
    bendito.
    10 E Sara acrescentou: Tende piedade de nós, Senhor; tende piedade
    de nós, e fazei que cheguemos juntos a uma ditosa velhice!
    11 Ora, ao cantar do galo, Raguel chamou os seus criados e foram
    juntos cavar uma sepultura.
    12 Quem sabe, dizia ele, se não aconteceu a esse o mesmo que aos
    outros sete homens que se aproximaram dela?
    13 Cavada a fossa, voltou para junto de sua mulher e disse:
    14 Manda uma de tuas escravas ver se ele morreu, a fim de que eu
    possa enterrá-lo antes de clarear o dia.
    15 Ela o fez. E a serva, tendo entrado no aposento, encontrou-os bem
    vivos, dormindo juntos.
    16 Ela voltou e deu essa boa nova; e Raguel com sua mulher louvaram
    o Senhor, dizendo:
    17 Nós vos bendizemos, Senhor Deus de Israel, porque não se realizou
    o que temíamos.
    18 Usastes conosco de vossa misericórdia, expulsando para longe de
    nós o inimigo que nos perseguia,
    19 e tivestes piedade de dois filhos únicos. Fazei, ó Senhor, que eles vos
    bendigam sempre mais, e vos ofereçam um sacrifício de louvor pela sua
    conservação, a fim de que todas as nações pagãs conheçam que vós
    sois o único Deus de toda a terra.
    20 Raguel ordenou imediatamente aos seus criados que enchessem de
    novo, antes que clareasse o dia, a cova que haviam feito.
    21 Disse à sua mulher que aprontasse um banquete e preparasse todos
    os víveres necessários aos viajantes.
    22 Mandou também matar duas vacas gordas e quatro carneiros,
    destinados a um festim para todos os seus vizinhos e amigos.
    23 E instou com Tobias que ficasse com ele duas semanas.
    24 Presenteou Tobias com a metade de seus bens, e redigiu um
    documento estipulando que a outra metade se tornaria também, depois
    de sua morte, propriedade de Tobias.
    Capítulo 9
    1 Tobias chamou então a si o anjo, que ele julgava ser um homem, e
    disse-lhe: Azarias, meu irmão, peço-te que me ouças.
    12
    2 Ainda que eu me fizesse teu escravo, não seria isso uma retribuição
    digna por teus cuidados.
    3 Não obstante, vou pedir-te ainda que tomes contigo cavalos e servos
    e vás à casa de Gabael, em Ragés, na Média. Devolve-lhe o seu recibo e
    recebe o dinheiro. Convida-o também para o meu casamento.
    4 Bem sabes que meu pai conta os dias; se eu tardar um dia mais, ele
    sofrerá com isso.
    5 Vês, por outro lado, como Raguel insistiu em que eu me demorasse
    aqui, e não lho posso recusar.
    6 Rafael tomou então quatro servos de Raguel, e dois camelos, e partiu
    para Ragés, na Média. Encontrando Gabael, entregou-lhe o recibo e
    recebeu dele todo o dinheiro.
    7 Contou-lhe toda a aventura de Tobias e fê-lo vir consigo às núpcias.
    8 Tobias estava à mesa, quando Gabael entrou na casa de Raguel.
    Lançaram-se nos braços um do outro, e Gabael louvava a Deus com
    lágrimas (de alegria).
    9 Que o Deus de Israel te abençoe, disse ele, porque és filho de um
    homem de bem, justo, piedoso e esmoler.
    10 Abençoe também a tua mulher e os vossos pais;
    11 possais ver os vossos filhos e os filhos de vossos filhos, até a terceira
    e a quarta gerações!
    12 Bendita seja a vossa raça pelo Deus de Israel que reina em toda a
    eternidade! Amém, responderam eles. E todos se puseram à mesa. E foi
    no temor do Senhor que celebraram o festim das núpcias.
    Capítulo 10
    1 O casamento de Tobias tinha retardado a sua volta. Seu pai, muito
    inquieto, dizia: Por que será que meu filho tarda tanto? Por que se
    demora lá?
    2 Teria Gabael porventura falecido, de sorte que não haveria ninguém
    para restituir o dinheiro?
    3 Ele entristeceu-se extremamente com isso, assim como Ana, sua
    mulher, e ambos se puseram a chorar, porque seu filho não voltava no
    tempo previsto.
    4 Sua mãe, principalmente, derramava lágrimas inesgotáveis, e dizia:
    Ai, ai, meu filho! Por que te mandamos lá? Tu que eras a luz de nossos
    olhos, o bordão de nossa velhice, a consolação de nossa vida e a
    esperança de nossa raça!
    5 Nós, que em ti só tínhamos tudo, não te devíamos ter deixado ir para
    longe de nós.
    6 Tobit dizia-lhe: Cala-te, não te aflijas! Nosso filho está passando bem;
    aquele homem com quem nós o mandamos é um homem de confiança.
    13
    7 Mas ela continuava inconsolável: todos os dias ela saía para fora,
    olhava para todos os lados, e corria por todos os caminhos, por onde
    poderia voltar o filho, a fim de vê-lo ao longe, se fosse possível.
    8 Entretanto, Raguel dizia ao seu genro: Fica aqui, mandarei notícias a
    Tobit, teu pai, a respeito de tua saúde.
    9 Mas Tobias disse-lhe: Sei que meu pai e minha mãe contam os dias e
    que se acham em grande tormento.
    10 Raguel insistiu ainda, apresentando muitas razões, mas Tobias não
    quis ouvi-lo. Então entregou-lhe Sara com a metade de seus bens em
    servos, servas, rebanhos, camelos, vacas, e em grande soma de
    dinheiro. Despediu-o cheio de saúde e alegria,
    11 dizendo-lhe: Que o santo anjo do Senhor vos acompanhe pelo
    caminho, e vos conduza sãos e salvos. Faço votos de que encontreis
    tudo em ordem em casa de vossos pais, e que eu possa ver os vossos
    filhos antes de morrer!
    12 Os pais beijaram sua filha e deixaram-na partir,
    13 recomendando-lhe que honrasse seus sogros, amasse o seu marido,
    educasse bem a sua família e governasse a sua casa, conservando-se
    ela mesma irrepreensível.
    Capítulo 11
    1 De regresso, chegaram no décimo primeiro dia de viagem a Caserim,
    que está a meio caminho na direção de Nínive.
    2 O anjo disse então: Tobias, meu irmão, tu sabes em que estado
    deixaste o teu pai.
    3 Se for do teu agrado, poderíamos tomar a dianteira, deixando a tua
    mulher, os servos e os rebanhos seguirem devagar pelo caminho.
    4 Tendo Tobias concordado com esse parecer, Rafael disse-lhe: Leva
    contigo o fel do peixe, porque vais precisar dele. Tomou, pois, Tobias o
    fel e partiram.
    5 Entretanto, Ana ia todos os dias assentar-se perto do caminho, no
    cimo de uma colina, de onde podia ver ao longe.
    6 Ela espreitava ali a volta de seu filho, quando o viu de longe que
    voltava e o reconheceu. Correu ao seu marido e disse-lhe: Eis que aí
    vem o teu filho!
    7 Ora, Rafael tinha dito a Tobias: Logo que entrares em tua casa,
    adorarás o Senhor teu Deus e dar-lhe-ás graças. Irás em seguida beijar
    teu pai,
    8 e pôr-lhe-ás imediatamente nos olhos o fel do peixe que tens contigo.
    Sabe que seus olhos se abrirão instantaneamente e que teu pai verá a
    luz do céu. E, vendo-te, ficará cheio de alegria.
    9 O cão, que os tinha acompanhado durante a viagem, correu então
    14
    adiante como um mensageiro, e mostrava o seu contentamento fazendo
    festas e abanando a cauda.
    10 O pai cego levantou-se e pôs-se a correr, tropeçando. Dando então a
    mão a um criado, foi ao encontro de seu filho.
    11 Abraçou-o e beijou-o, fazendo o mesmo sua mulher, e ambos
    começaram a chorar de alegria.
    12 Só se assentaram depois de terem adorado e agradecido a Deus.
    13 Tobias tomou então o fel do peixe e pô-lo nos olhos de seu pai.
    14 Depois de ter esperado cerca de meia hora, começou a sair-lhe dos
    olhos uma belida branca como a membrana de um ovo.
    15 Tobias tomou-a e a arrancou dos olhos de seu pai, o qual recobrou
    instantaneamente a vista.
    16 E louvaram a Deus, ele, sua mulher e todos os que o conheciam.
    17 Bendigo-vos, Senhor Deus de Israel, dizia ele, porque depois de me
    terdes provado, me salvastes: eis que vejo o meu filho Tobias!
    18 Sete dias depois, chegou também Sara, mulher de seu filho, com
    todos os seus servos, em boa saúde, com os rebanhos, os camelos, o
    grande dote da esposa, e mais o dinheiro recebido de Gabael.
    19 Tobias contou a seus pais todos os benefícios que Deus lhe tinha
    feito por intermédio de seu guia.
    20 Chegaram também Aquior e Nabat, primos de Tobit, felizes de
    poderem congratular-se com ele pelos benefícios que Deus lhe tinha
    prodigalizado.
    21 Durante sete dias houve festa e grande regozijo.
    Capítulo 12
    1 Então Tobit chamou seu filho e disse-lhe: Que havemos nós de dar a
    esse santo homem que te acompanhou?
    2 Meu pai, respondeu ele, que gratificação lhe havemos de dar? Que
    presente poderá igualar os seus benefícios?
    3 Ele levou-me e trouxe-me em boa saúde; foi receber o dinheiro de
    Gabael; fez-me ter uma mulher e afugentou dela o demônio; encheu de
    alegria os seus pais; livrou-me de ser devorado pelo peixe, e fez-te
    rever a luz do céu; enfim, ele cumulou-nos de toda a sorte de
    benefícios. Que presente poderia igualar a tudo isso?
    4 Rogo-te, meu pai, que lhe peças se digne aceitar a metade de tudo o
    que trouxemos.
    5 Chamaram-no, pois, o pai e o filho, e, tomando-o à parte, rogaramlhe
    que aceitasse a metade de tudo o que tinham trazido.
    6 Então ele falou-lhes discretamente: Bendizei o Deus do céu, e dai-lhe
    glória diante de todo o ser vivente, porque ele usou de misericórdia para
    convosco.
    15
    7 Se é bom conservar escondido o segredo do rei, é coisa louvável
    revelar e publicar as obras de Deus.
    8 Boa coisa é a oração acompanhada de jejum, e a esmola é preferível
    aos tesouros de ouro escondidos,
    9 porque a esmola livra da morte: ela apaga os pecados e faz encontrar
    a misericórdia e a vida eterna;
    10 aqueles, porém, que praticam a injustiça e o pecado são os seus
    próprios inimigos.
    11 Vou descobrir-vos a verdade, sem nada vos ocultar.
    12 Quando tu oravas com lágrimas e enterravas os mortos, quando
    deixavas a tua refeição e ias ocultar os mortos em tua casa durante o
    dia, para sepultá-los quando viesse a noite, eu apresentava as tuas
    orações ao Senhor.
    13 Mas porque eras agradável ao Senhor, foi preciso que a tentação te
    provasse.
    14 Agora o Senhor enviou-me para curar-te e livrar do demônio Sara,
    mulher de teu filho.
    15 Eu sou o anjo Rafael, um dos sete que assistimos na presença do
    Senhor.
    16 Ao ouvir estas palavras, eles ficaram fora de si, e, tremendo,
    prostraram-se com o rosto por terra.
    17 Mas o anjo disse-lhes: A paz seja convosco: não temais.
    18 Quando eu estava convosco, eu o estava por vontade de Deus:
    rendei-lhe graças, pois, com cânticos de louvor.
    19 Parecia-vos que eu comia e bebia convosco, mas o meu alimento é
    um manjar invisível, e minha bebida não pode ser vista pelos homens.
    20 É chegado o tempo de voltar para aquele que me enviou: vós,
    porém, bendizei a Deus e publicai todas as suas maravilhas.
    21 Acabando de dizer estas palavras, desapareceu diante deles, e eles
    não viram mais nada.
    22 Durante três horas permaneceram prostrados por terra, bendizendo
    a Deus. Depois levantaram-se e publicaram todas essas maravilhas.
    Capítulo 13
    1 Tobit tomou, então, a palavra e, num transporte de alegria, escreveu
    esta prece: Sois grande, Senhor, na eternidade, vosso reino estende-se
    a todos os séculos.
    2 Porque vós provais e, em seguida, salvais. Conduzis a profundos
    abismos e deles tirais; e não há quem possa escapar à vossa mão.
    3 Celebrai o Senhor, filhos de Israel. Louvai-o em presença das nações.
    4 Porque, se ele vos dispersou entre povos que o não conhecem, foi
    para que publiqueis as suas maravilhas e lhes façais reconhecer que não
    16
    há outro Deus onipotente senão ele.
    5 Castigou-nos por causa das nossas iniqüidades, mas nos salvará por
    sua misericórdia.
    6 Considerai, agora, o que fez por nós, e bendizei-o com temor e
    tremor; por vosso comportamento, glorificai o rei dos séculos.
    7 Quanto a mim, louvá-lo-ei na terra do meu cativeiro, porque
    manifestou sua majestade sobre um povo criminoso.
    8 Convertei-vos, pecadores, e praticai a justiça diante de Deus, na
    confiança que vos fará misericórdia.
    9 Nele me alegrarei de todo o coração.
    10 Dai graças ao Senhor, vós todos, seus eleitos; celebrai dias de
    alegria e rendei-lhe louvores.
    11 Jerusalém, cidade santa! Deus te castigou por teu mau
    procedimento.
    12 Confessa a Deus como convém e louva o rei dos séculos, para que
    ele reedifique o teu santuário. Reúna em ti os que foram deportados, e
    possas alegrar-te sem fim!
    13 Hás de refulgir qual esplêndida luz, e todos os povos da terra te
    venerarão.
    14 Nações de longe virão a ti, com presentes, adorar o Senhor em teus
    muros, e considerarão o teu solo como um santuário.
    15 Porque em teu recinto invocarão o grande nome.
    16 Maldito seja quem te desprezar; desonrado, quem te caluniar;
    bendito seja quem te reconstruir!
    17 Alegrar-te-ás nos teus filhos, porque serão todos abençoados, e se
    reunirão junto do Senhor.
    18 Ditosos todos os que te amam: na tua paz encontrarão sua alegria.
    19 Ó minha alma, bendize ao Senhor, porque o Senhor, nosso Deus,
    livrou Jerusalém de todas as suas tribulações.
    20 Feliz serei, se ficar um homem de minha raça para ver o esplendor
    de Jerusalém:
    21 suas portas serão reconstruídas com safiras e esmeraldas, seus
    muros serão inteiramente de pedras preciosas,
    22 Suas praças serão pavimentadas de mosaicos e rubis, e em suas
    ruas cantarão: Aleluia!
    23 Bendito seja Deus que te restituiu tal esplendor! Que ele reine sobre
    ti eternamente!
    Capítulo 14
    1 Tal foi o cântico de Tobit. Depois que recobrou a vista, viveu (ainda)
    Tobit quarenta e dois anos, e viu os filhos de seus netos.
    2 (Morreu) com a idade de cento e dois anos, e foi sepultado com muita
    17
    honra em Nínive.
    3 Aos cinqüenta e seis anos tornou-se cego, e recobrou a vista aos
    sessenta.
    4 Todo o resto de sua vida se passou na alegria; e a paz de que gozou
    foi em proporção aos seus progressos no temor a Deus.
    5 Quando veio a hora de sua morte, chamou à sua presença o seu filho
    Tobias, com os sete filhos deste e disse-lhes:
    6 Está próxima a ruína de Nínive, porque a palavra de Deus não falha;
    os nossos irmãos, que foram dispersos para longe da pátria de Israel,
    voltarão para ela.
    7 Todo o seu país deserto será repovoado, e a casa de Deus, que ali foi
    queimada, será reconstruída. Todos os homens que temem a Deus
    voltarão novamente para ela
    8 e as nações pagãs abandonarão os seus ídolos e virão habitar em
    Jerusalém,
    9 e todos os reis da terra se alegrarão de apresentar suas homenagens
    ao rei de Israel.
    10 Ouvi, pois, o vosso pai, meus filhos. Servi fielmente o Senhor e
    procurai fazer o que lhe é agradável.
    11 Recomendai aos vossos filhos que pratiquem a justiça, sejam
    caridosos e esmoleres, que se lembrem de Deus e o bendigam em todo
    o tempo, fielmente, e com todas as suas forças.
    12 E agora, meus filhos, ouvi-me: não fiqueis aqui; mas, no dia em que
    tiverdes enterrado vossa mãe junto de mim no mesmo túmulo, pondevos
    logo a caminho para deixar estes lugares;
    13 porque eu vejo que a iniqüidade desta cidade será a causa de sua
    queda.
    14 Depois da morte de sua mãe, Tobias partiu de Nínive com sua
    mulher, seus filhos e seus netos, e voltou para a casa de seus sogros.
    15 Encontrou-os em perfeita saúde, numa ditosa velhice. Teve para com
    eles todas as atenções, e fechou-lhes os olhos. Tomou posse de toda a
    herança da casa de Raguel, e viu os filhos de seus filhos até a quinta
    geração.
    16 Morreu com alegria, tendo vivido noventa e nove anos no temor ao
    Senhor, e seus filhos sepultaram-no.
    17 Toda a sua parentela e toda a sua descendência perseveraram numa
    vida íntegra e santo procedimento, de modo que foram amados tanto
    por Deus como pelos homens e por todos os seus compatriotas.            
SEGUINDO O RACÍOCINIO DE ENOQUE, É BEM PROVÁVEL QUE TÓBIAS TENHA SIDO REALMENTE UM HOMEM TEMENTE A DEUS E QUE NÃO TENHA PERCEBIDO QUE ESTAVA SENDO ENVOLVIDO PELOS ANJOS CAÍDO SITADOS DURANTE O LIVRO DE ENOQUE; VEJAMOS:
 
Capítulo 7
1E aconteceu depois que os filhos dos homens se multiplicaram naqueles dias, nasceram-lhe filhas, elegantes e belas.
2E quando os anjos, os filhos dos céus, viram-nas, enamoraram-se delas, dizendo uns para os outros: Vinde, selecionemos para nós mesmos esposas da progênie dos homens, e geremos filhos.
    TÓPICO (6) ENTRE OS VERSÍCULOS 9 E 10
O texto aramaico preserva uma lista anterior dos nomes destes Guardiães ou Sentinelas: Semihazah; Artqoph; Ramtel; Kokabel; Ramel; Danieal; Zeqiel; Baraqel; Asael; Hermoni; Matarel; Ananel; Stawel; Samsiel; Sahriel; Tummiel; Turiel; Yomiel; Yhaddiel (Milik, p. 151).
10Então eles tomaram esposas, cada um escolhendo por si mesmo; as quais eles começaram a abordar, e com as quais eles cohabitaram, ensinando-lhes sortilégios, encantamentos,e a divisão de raízes e árvores.
12Cuja estarura era de trezentos cúbitos. Estes devoravam tudo o que o labor dos homens produzia e tornou-se impossível alimentá-los;
13Então eles voltaram-se contra os homens, a fim de devorá-los;
14E começaram a ferir pássaros, animais, répteis e peixes, para comer sua carne, um depois do outro,  e para beber seu sangue.
3Amazarak ensinou todos os sortilégios, e divisores de raízes:
4Armers ensinou a solução de sortilégios;
5Barkayal ensinou os observadores das estrelas, (9)
(9) Observadores das estrelas. Astrólogos (Charles, p. 67).
6Akibeel ensinou sinais;
7Tamiel ensinou astronomia;
8E Asaradel ensinou o movimento da lua,
9E os homens, sendo destruídos, clamaram, e suas vozes romperam os céus.